Juliet Marie Kietzmann

Biz, ops, bicicleta

Comecei a aprender a andar de bicicleta com marchas no ano passado.


A experiência tem sido muito boa. Já consegui substituir o ônibus para pequenos trajetos (até 20 km, ida e volta) e agora estou tentando usar o bicicletário do metrô (não tive sorte ainda). Nos quarenta minutos de pedalação dá para saborear o momento, respirar o ar puro, sentir a puxada nos músculos, tomar cuidado com os motoristas malucos – coitados! e até sobra tempo para pensar na vida e filosofar sobre o trabalho.

Aprender a pedalar com marchas teve um grande impacto na minha vida. Comecei até a pensar no trabalho em termos de andar de bicicleta. Trabalho com informática. Faço programas, sites, banco de dados, cuido da infraestrutura e de campanhas de marketing tanto para uso da minha empresa quanto como serviços prestados a clientes. Onde moro tem muitas subidas acentuadas, então sinto a diferença no manuseio da bicicleta de forma imediata. Não sei se a comparação entre andar de bicicleta e meu trabalho teria me ocorrido se meu caminho fosse plano.

Imagine fazer uma planilha financeira no Excel. Ele é muito fácil de usar. Dá para dividir o período por abas; por exemplo, uma aba por mês, por ano, ou até por dia. O conteúdo, a lista dos itens que serão pagos ou recebidos, é só copiar e colar. As fórmulas não são difíceis; o Excel tem uma lista de funções; se o usuário fizer algum erro que invalide o cálculo, o programa avisa; conferir as células envolvidas na conta só leva um clique.

Ele é como pedalar na descida na marcha mínima (sem marcha). As pernas se movimentam com velocidade, a bicicleta anda rapidamente e, se cansar, não é preciso fazer nada para continuar rodando - é só clicar, arrastar, copiar e colar.

Copiar e colar é fácil; por outro lado, o progresso não corresponde ao esforço. Na descida, sem marcha, a bicicleta só vai rápido por ser descida; mesmo que consigamos acompanhar o pedal, não vai fazer diferença. A produção de uma planilha não vai fazer nenhuma diferença quando formos criar outra; por exemplo, mesmo com a planilha financeira pronta, a planilha de cadastro de cliente começa do zero.

O outro lado da planilha é similar ao outro lado da descida – a subida. Subir pedalando é muito mais difícil que subir andando. Se o resultado é o mesmo – chegar ao topo – por que ir do jeito mais puxado? A primeira vez que tive que subir a ladeira fui andando puxando a bicicleta; na segunda, fui bem devagar; tão devagar que acho que se tivesse alguém andando do meu lado, teria chegado junto comigo... mas, aos poucos, com minha resistência física aumentando, essa ladeira deixou de ser um Everest.

A parte do meu dia a dia que mais acho parecida com o outro lado da descida é fazer um programa. O objetivo de todo programa é executar certas ações sozinho. Para isso, tenho que descobrir quais ações ele deve fazer e como essas ações são, para depois escrever o código.

Em vez de usar planilhas, por exemplo, um programa para o gerenciamento das finanças cuidaria dos itens, dos pagamentos, dos recebimentos, e provavelmente teria um relacionamento com outros aspectos da administração, como clientes, contabilidade e relatórios. Quanto mais automáticas as ações ficam, mais rápido realizo meu trabalho; no fim, o que acaba tomando tempo é a interpretação dos relatórios - a análise dos dados, não sua digitação.

Como subir uma ladeira de bicicleta, fazer um programa requer muito esforço. Mas, diferentemente da ladeira, em que cada nova ladeira se torna mais fácil que a anterior, cada nova etapa de um programa apresenta desafios.

O que programas têm a ver com ebusiness? Programas são a base de qualquer ebusiness. Visualizar uma empresa fazendo negócios eletrônicos sem o suporte da tecnologia é algo para se pensar só mesmo numa pedalada.