Juliet Marie Kietzmann

O MENINO E A ROSA

Helen Buckley

Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande. Uma manhã, a professora disse:

- Hoje nós iremos fazer um desenho.

- Que bom! - pensou o menininho. Ele gostava de desenhar leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... Pegou a sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar. A professora então disse:

- Esperem, ainda não é hora de começar!

Ela esperou até que todos estivessem prontos.

- Agora, disse a professora, nós iremos desenhar flores.

E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul.

A professora disse:

- Esperem! Vou mostrar como fazer.

E a flor era vermelha com caule verde.

- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.

O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso... Virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora. Era vermelha com caule verde.

Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse:

- Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro.

- Que bom! - Pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro.

Então, a professora disse:

- Esperem! Não é hora de começar!

Ela esperou até que todos estivessem prontos.

- Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato.

- Que bom! - pensou o menininho.

Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.

A professora disse:

- Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora vocês podem começar.

E o prato era um prato fundo. O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo, igual ao da professora.

E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio.

Então aconteceu que o menininho teve que mudar de escola. Essa escola era ainda maior que a primeira.

Um dia a professora disse:

- Hoje nós vamos fazer um desenho.

- "Que bom! - pensou o menininho e esperou que a professora dissesse o que fazer.

Ela não disse. Apenas andava pela sala. Então veio até o menininho e disse:

- Você não quer desenhar?

- Sim, e o que é que nós vamos fazer?

- Eu não sei, até que você o faça.

- Como eu posso fazê-lo?

- Como você quiser.

- Qualquer cor?

- Qualquer cor. Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como é que eu posso saber quem fez o quê?

- Eu não sei ...

E então o menininho começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde...

Criatividade

Ano passado lemos em classe o conto "O Menino e a Rosa", de Helen Buckley. O tema era arte educação, e o conto foi para discutir a diferença que uma professora má e uma professora boa fazem para a criatividade dos alunos.


Este é o conto.

Acho que ninguém vai discordar: um educador preparado para trabalhar linguagens artísticas com seus alunos sabe auxiliá-los nesta jornada, para que eles adquiram esta competência, e sabe também lidar com as dificuldades pessoais de cada um. O educador despreparado, por outro lado, pode sentir necessidade de usar recursos tradicionais para sentir que cumpriu seu papel.

No entanto...

Ao ler o texto, teve algo que ficou me incomodando.

Será que o texto é uma caricatura, e por isso tem esse aspecto de conto de fada? Porque se for, nunca é bom tomar como base uma caricatura para, como estamos fazendo agora, discutir o que o professor real faz de errado.

Depois pensei que poderia ser algo que se perdeu na tradução, então fui buscar o original. Não consegui. Achei várias versões em inglês do conto que na verdade é um poema, e os locais indicam ou dão a entender que a cópia que expõem foi uma adaptação; e ainda, o final nessas várias versões tem duas formas diferentes. Encontrei a referência bibliográfica da autora, mas disso falo no fim.

De qualquer forma, não há dúvida de que a primeira professora não estava preparada. Mas veja, preparada nem a segunda professora estava.

Ela não estava trabalhando linguagem artística; ela sorria e elogiava. Se sorrir e elogiar fosse suficiente para ensinar, ninguém precisaria fazer faculdade para ser professor, nem para ser aluno.

Mas não é só isso. Ela deu plena liberdade aos alunos: eles podiam escolher o que desenhar e podiam escolher as cores que quisessem. Mas o objetivo da liberdade no desenho era coibir o plágio, não a arte-educação. "Se o seu desenho for igual ao dos outros, como vou saber que é seu?", pergunta a professora. Em outras palavras, "aqui está um crayon; prove que você não é bandido".

Deixe-me explicar melhor. A troca de perguntas, à primeira vista, faz parecer que o aluno não tinha medo da segunda professora, faz parecer que ela era mais acessível aos alunos. Não é esse o caso. O menino, quando ouve a tarefa, não sabe o que fazer, e não pergunta. A professora tem que chegar perto dele para cobrar. O que faz o aluno perguntar e perguntar de novo é o fato da professora não ter deixado claro o que era para fazer.

"Como vou saber o que você vai desenhar até que você desenhe?" Não era para fazer qualquer desenho. Era para fazer um desenho que identificasse o autor. Ela emite sinais ambíguos: de um lado sorri e dá liberdade, por outro lado não é capaz de falar: hoje vocês vão fazer um desenho *livre*. Por que não explicou assim? Por que na verdade o desenho não era livre.

Quando ele fica contemplando a folha vazia, o menino não está com a imaginação definhada. Ele está tentando adivinhar o que a professora quer.

No fim, ele fez exatamente o que ela pediu. Ele desenhou algo que ninguém mais desenhou igual.

No entanto ...

Há algo de errado com esse menino.

Criança faz o que quer. Criança pinta um cavalo de verde e, se o adulto diz que isso não existe, criança que é criança não joga fora o desenho e faz outro. Ela retruca, ela se explica.

Na primeira parte, em que ele faz o desenho como quer, o texto diz que, quando vê o que a professora fez, ele compara, e acha o seu desenho mais bonito, mas que "não pode dizer isso". Não pode por quê? No texto não tem nada da professora dizer que ele tem que refazer o que quer que seja. O texto não diz que a professora o proibiu de gostar do que quer que fosse. Então quem o proibiu?

O comportamento do menino dá indícios de que ele observa para ser capaz de satisfazer a expectativa da autoridade. Que ele vai tentar por todos os meios identificar qual é essa expectativa, observando enquanto der, perguntando se for preciso. E que ele tem experiência com autoridade, e proibido de dizer do que gosta, a obedece mesmo à distância.

Isso é comportamento de criança em situação de abuso, de maus-tratos, de vida no lar de extremo desequilíbrio. Ele é muito novinho para esse tipo de comportamento, para esse nível de expectativa, para essa reação à là final de Megera Domada, que destroi o que mais gosta pela obediência cega.

E foi isso o que achei, quando fui procurar o conto original. Curiosamente, a escritora do poema tem outros com livros publicados, acadêmicos, sobre o tema de proteção a crianças em situações de abuso. http://www.jacketflap.com/helen-elizabeth-buckley/60878

A questão da autoridade à distância é um problema por que o menino é muito, muito novinho.

Sabe como a segunda professora poderia fazer para saber de que era o desenho? Eu sei de, não uma, mas duas formas. A primeira é: pergunte. "E esse desenho, de quem é?" Mãozinha para cima. Pronto. A segunda, escreva o nome do menino no desenho.

E este é meu ponto, olha como era novinho o menino, que não só não sabia escrever, como não sabia da escrita do próprio nome, não sabia da existência da escrita como registro de identidade. No final do poema ele teria o quê, dois, três anos?

Criança pequena saudável não dá bola para adulto.

E, falando em flor: Minha flor favorita na infância à esquerda, minha flor hoje à direita.

a rosa

***

E este é o poema original.

O MENINO E A ROSA

HelenBuckley

Once a little boy went to school.

He was quite a little boy.

And it was quite a big school.

But when the little boy

Found that he could go to his room

By walking right in from the door outside,

He was happy.

And the school did not seem

Quite so big any more.

One morning,

When the little boy had been in school a while,

The teacher said:

“Today we are going to make a picture.”

“Good!” thought the little boy.

He liked to make pictures.

He could make all kinds:

Lions and tigers,

Chickens and cows,

Trains and boats –

And he took out his box of crayons

And began to draw.

But the teacher said:

“Wait! It is not time to begin!”

And she waited until everyone looked ready.

“Now,” said the teacher,

“We are going to make flowers.”

“Good!” thought the little boy,

He liked to make flowers,

And he began to make beautiful ones

With his pink and orange and blue crayons.

But the teacher said,

“Wait! And I will show you how.”

And she drew a flower on the blackboard.

It was red, with a green stem.

“There,” said the teacher.

“Now you may begin.”

The little boy looked at the teacher’s flower.

Then he looked at his own flower,

He liked his flower better than the teacher’s.

But he did not say this,

He just turned his paper over

And made a flower like the teacher’s.

It was red, with a green stem.

On another day,

When the little boy had opened

The door from the outside all by himself,

The teacher said,

“Today we are going to make something with clay.”

“Good!” thought the boy.

He liked clay.

He could make all kinds of things with clay:

Snakes and snowmen,

Elephants and mice,

Cars and trucks –

And he began to pull and pinch

His ball of clay.

But the teacher said,

“Wait! And I will show you how.”

And she showed everyone how to make

One deep dish.

“There,” said the teacher.

“Now you may begin.”

The little boy looked at the teacher’s dish

Then he looked at his own.

He liked his dishes better than the teacher’s

But he did not say this,

He just rolled his clay into a big ball again,

And made a dish like the teacher’s.

It was a deep dish.

And pretty soon

The little boy learned to wait

And to watch,

And to make things just like the teacher.

And pretty soon

He didn’t make things of his own anymore.

Then it happened

That the little boy and his family

Moved to another house,

In another city,

And the little boy

Had to go to another school.

This school was even bigger

Than the other one,

And there was no door from the outside

Into his room.

He had to go up some big steps,

And walk down a long hall

To get to his room.

And the very first day

He was there, the teacher said,

“Today we are going to make a picture.”

“Good!” thought the little boy,

And he waited for the teacher

To tell him what to do

But the teacher didn’t say anything.

She just walked around the room.

When she came to the little boy,

She said, “Don’t you want to make a picture?”

“Yes,” said the little boy.

“What are we going to make?”

“I don’t know until you make it,” said the teacher.

“How shall I make it?” asked the little boy.

“Why, any way you like,” said the teacher.

“And any color?” asked the little boy.

“Any color,” said the teacher,

“If everyone made the same picture,

And used the same colors,

How would I know who made what,

And which was which?”

“I don’t know,” said the little boy.

And he began to draw a flower.

It was red, with a green stem.